A revista Brasileiros publicou, ano passado, uma reportagem sobre Carlos e Miguel Vargas, por ocasião da mostra desses irmãos peruanos na Pinacoteca. No início da matéria, Diógenes Moura, o curador da mostra, faz uma reflexão muito interessante sobre a fotografia e sobre o olhar do fotógrafo. Sempre me pego refletindo algumas das perguntas que Diógenes coloca em seu artigo. Coloquei abaixo parte da matéria, mas acho que vale a pena dar um "pulinho" no site da Revista Brasileiros para ver as fotos.
"Quem de vocês sabe por que o fotógrafo tenta olhar o outro assim, desse jeito, duplo, vestido e sem roupa? Quem de vocês sabe quando esse outro estará realmente nu diante da visão representativa que cada fotógrafo leva para o retrato? O que cada um deles, ou de nós (já que o retrato pode ser visto, num piscar de olhos, nas ruas quando cruzamos com o próximo transeunte) pretende quando coloca o indivíduo por dentro de uma fotografia: ultrapassar os limites da fragilidade? Mudar um pensamento? O que será que o fotógrafo reinventa em cada retrato? Há neles um autorretrato?
Quem primeiro se coloca diante do outro: a câmera ou olhar? Se a fotografia é a busca pela liberdade e se estamos falando em liberdade, quem é estrangeiro diante de um retrato: eu ou você?
Até quando precisamos da imagem do outro para "entender" a nossa própria iconografia? O que um retrato guarda e o que ele leva embora: os rastros de uma existência? Os ruídos dos tempos? Se você cola um retrato sorrindo em uma lata de sopa, o que ele quer dizer: um modelo de pensamento ou uma forma inventada para eternizar o que nunca será eterno? Se você coloca um retrato em um álbum de família, poderemos até pensar, existo, e esse será um retrato para a próxima memória.
Qual a verdadeira história que um retrato eterniza? Por que o fotógrafo nos olha assim? Um retrato representa para a fotografia o que queremos ser para nós mesmos? O que poderemos representar diante de um retrato: uma figura em busca de uma frágil posteridade ou a recordação de um outro mesmo eu?
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